Programa de rádio reapresenta série sobre a luta antimanicomial

No mês em que é comemorado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18/05), Saúde com Ciência investiga panorama histórico e a situação da luta nos últimos anos no país

Há 35 anos, o psiquiatra italiano Franco Basaglia, uma das lideranças da luta antimanicomial na Europa, desembarcava em Minas Gerais para o 3° Congresso Mineiro de Psiquiatria, que contou com a participação de diversos profissionais da área da saúde e foi muito importante para consolidar o movimento no país, comemorado no dia 18 de maio e relembrado pelo programa Saúde com Ciência.

Segundo a professora do curso de Psicologia da UFMG, Maria Stella Goulart, coordenadora do Programa de Extensão de Atenção à Saúde Mental (Pasme-UFMG), além da presença de Basaglia, foi divulgado pela primeira vez o documentário “Em nome da razão”, de Helvécio Ratton, que contém cenas fortes do hospital-colônia de Barbacena, em Minas Gerais, que está reformado. “A exibição do filme, a presença de intelectuais ativistas e de uma militância de áreas diversas – essa confluência de forças promoveu a desencadeamento da reforma psiquiátrica mineira e brasileira”, afirma.

Ela acrescenta que a convivência com pessoas que passaram pela experiência de sofrimento mental intenso ganhou conotação mais ampla, havendo maior tolerância e generosidade nesse processo, que hoje inclui o Sistema Único de Saúde (SUS). Com os avanços médicos, o psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Maurício Viotti, acredita que houve uma revolução no país. “Há 50 anos, só existiam duas formas de tratamento para esses pacientes: sedativos e camisa de força. Não havia o que fazer com o paciente em estado grave, por isso eles eram internados com frequência. Hoje, o tratamento é mais imediato e eficaz, havendo cada vez menos necessidade de internação”, considera.

Franco Basaglia comparou hospital-colônia de Barbacena-MG (foto) ao Holocausto. Foto: Reprodução

Com a reforma psiquiátrica brasileira, promulgada em 2001, a preocupação social em torno das pessoas com doenças mentais trouxe, segundo Maria Stella, atenção às especificidades de cada paciente e melhorias no desenvolvimento de medicamentos. “Antes da lei, era comum que as pessoas fossem colocadas numa situação de isolamento apenas com suporte medicamentoso, que não era acompanhado sistematicamente. Havia, portanto, um tratamento inadequado. Atualmente, quando se vai a um centro de atenção psicossocial, o cenário é diferente, existe um cuidado maior na construção de diagnósticos”, comenta a psicóloga.

Apesar disso, a luta antimanicomial ainda encontra hospitais psiquiátricos ilegais e preconceito às pessoas com saúde mental comprometida. A promotora de justiça de Barbacena, Giovanna Cruz, que fiscaliza os direitos desses pacientes, fala da necessidade de conscientização, uma vez que o movimento existe porque representa uma situação atual. “A abordagem ao indivíduo com transtorno mental ainda é precária em certos locais, sendo o tratamento semelhante ao que ocorria no passado”, pontua.

O auge dos manicômios no período da ditadura e a situação recente da luta você confere neste Saúde com Ciência, que vai ao ar entre os dias 04 e 08 de maio de 2015.

Sobre o programa de rádio

O Saúde com Ciência é produzido pela Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. De segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h, ouça o programa na rádio UFMG Educativa, 104,5 FM.

Ele também é veiculado em outras 103 emissoras de rádio, que envolvem as macrorregiões de Minas Gerais e os seguintes estados: Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.