Relembre como foi 2019 na retrospectiva da saúde

Ano foi marcado por avanços na ciência, mudanças na legislação e na atenção primária e questões ambientais.


30 de dezembro de 2019 - , ,


*Antônio Paiva

O ano de 2019 trouxe algumas mudanças que foram marcos para a área da saúde. Descobertas e avanços na ciência possibilitaram progressos em tratamentos de doenças e para a realização de transplantes e cirurgias. No entanto, alguns outros eventos afetaram negativamente a área e colocaram em discussão, por exemplo, os impactos e consequências para a saúde da degradação do meio ambiente.

O Saúde com Ciência preparou uma retrospectiva em cinco programas com alguns dos destaques do ano no setor. O fim do Mais Médicos e avanços no tratamento do câncer de mama e do pé diabético foram alguns dos temas. Ouça aqui.

Listamos cinco fatos desse ano que foram significativos e que caracterizam 2019 no campo da saúde. Confira:

5 – Venda de produtos à base de Cannabis       

No início de dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), aprovou a venda de produtos à base de Cannabis, popularmente conhecida como maconha, mediante prescrição médica. A medida da Agência significa que produtos à base de Cannabis poderão ser comercializados nas farmácias. No entanto, o cultivo em solo brasileiro foi rejeitado. Dessa forma, fabricantes que optarem por fabricar o produto deverão importar o substrato da planta.

Fabrício Moreira, professor do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, conta que esses produtos são eficazes no tratamento de alguns tipos de dores, em que os medicamentos convencionais não funcionam. Além disso, eles podem ser prescritos para pacientes que tem câncer, com o intuito de aliviar os efeitos colaterais dos fármacos usados no tratamento. “Outro exemplo, bem interessante, é para o tratamento de alguns tipos de epilepsia. Curiosamente, alguns componentes da Cannabis, como por exemplo, o cannabidiol, tem uma eficácia no tratamento dessa doença”, afirma.

4 – Eventos ambientais: queimadas e Brumadinho

Desde o início do ano, diversos eventos ambientais trouxeram impactos negativos para a saúde humana e dos ecossistemas. Um deles foram as queimadas que ocorreram em diversas partes do país. De acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Brasil ultrapassou cem mil focos de queimadas até setembro, o maior número em sete anos.  Apolo Lisboa, professor aposentado do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, conta que a falta de umidade do ar é uma das causadoras desses incêndios e que, junto, traz problemas para a saúde humana, como a tosse, o ressecamento da pele e das mucosas do olho, da garganta e do nariz.

Outro evento ambiental de 2019 foi o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, no dia 25 de janeiro. Mais de 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos do processo de mineração foram liberados, vitimando 270 pessoas. A lama chegou ao Rio Paraopeba, fundamental para o abastecimento da região metropolitana de Belo Horizonte. Impactos para o meio ambiente já foram constatados, como aumento de vetores de doenças (mosquitos e caramujos, por exemplo). O que não se sabe ao certo são as consequências para a saúde das populações afetadas. Dessa forma, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em parceria com a UFMG, vai realizar estudo nos próximos 20 anos com a população de Brumadinho para identificar esses efeitos.

3 –  Avanços no tratamento do câncer de mama

O ano de 2019 trouxe importantes avanços no tratamento e na prevenção desse tipo de câncer, possibilitando às mulheres aumento da sobrevida e resultando em curas mais eficazes. O primeiro avanço foi o desenvolvimento da realização do exame de sequenciamento genético. Esse exame identifica e rastreia mutações nos genes que predispõem ao câncer de mama. Em Minas Gerais, a lei estadual 23.449/2019, passou a garantir o sequenciamento para a verificação de mutações genéticas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O teste é indicado para mulheres com alto risco de desenvolvimento do câncer de mama e do ovário.

Outra medida aprovada neste ano é a Lei 13.896/2019, que determina a realização de exames para diagnóstico em até 30 dias após a suspeita da doença. Antes dessa lei, o prazo era de 60 dias. Para o professor do Departamento de Clínica Médica da UFMG, André Murad, essa lei nacional obriga que o sistema público dê respostas às demandas da população e, assim, melhore os atrasos que são decisivos no combate à doença. “Aliado a essa lei da obrigatoriedade do estado (de Minas Gerais) pagar os testes genéticos, isso vai concorrer para a melhora da sobrevida, da taxa de cura e melhoria geral dos casos de câncer de mama aqui no nosso estado”, comenta o professor.

2 – Fim dos Mais Médicos

 O Programa Mais Médicos para o Brasil, nacionalmente conhecido apenas como Mais Médicos, tinha o objetivo levar médicos para áreas e regiões mais distantes do país. Criado em 2013, o programa também se caracterizava pela participação de médicos cubanos. No entanto, no início de 2019, o governo brasileiro decidiu encerrar o programa e substituí-lo por um novo. Também passou a ser exigida a validação de diplomas de médicos estrangeiros. Com isso, Cuba encerrou a parceria com o Brasil e retirou seus profissionais do país.

De acordo com Rodrigo Penha, professor do curso de Medicina da Universidade Federal de São João Del Rei, como consequência do fim dos Mais Médicos percebe-se a não reposição de médicos após a saída dos profissionais cubanos e a insatisfação da população com médicos que não estão adequados à atenção primária ou com a região em que está trabalhando. Dessa forma, os pacientes começaram a aceitar novamente atendimentos que fogem dos requisitos do Mais Médicos.

No último dia 18 de dezembro, foi a sancionada a lei do novo programa do governo federal, o Médicos Pelo Brasil, que visa ampliar a oferta de médicos no país, após a saída dos profissionais cubanos. Ainda não se tem informações detalhadas sobre o funcionamento desse novo projeto, mas professores e profissionais da saúde se mostram receosos com as dúvidas e incertezas que permeiam o programa. Dentre elas, destacam-se o aumento da carga horária e a viabilidade de médicos brasileiros reporem as vagas desocupadas com o término de Mais Médicos.

1 – Avanços no tratamento de pé diabético

A amputação do pé diabético é algo frequente: dados do Ministério da Saúde mostram que entre 2011 e 2016, mais de 100 mil cirurgias de amputação foram feitas no SUS, sendo 70% delas em pessoas com a diabetes mellitus e 94% de em membros inferiores. Pensando nisso, pesquisadores e profissionais da saúde realizaram um transplante com células-tronco para evitar a amputação em diabéticos. A cirurgia foi feita por um grupo de pesquisa vinculado à UFMG, por meio da Faculdade de Medicina e do Instituto de Ciências Biológicas, além do Hospital Risoleta Tolentino Neves e do Hospital das Clínicas.

O coordenador do projeto e professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, Túlio Navarro comenta que o transplante com células tronco em pé diabético está sendo realizado apenas em pacientes que não apresentam mais nenhuma forma de tratar os membros inferiores e afirma que o procedimento ainda está em caráter experimental. “Já estamos com três pacientes com resultados que eu diria que são animadores, porque a gente ainda está seguindo os pacientes, então não tem como ter um resultado definitivo”, comenta Túlio Navarro.

Sobre o Programa de Rádio

Saúde com Ciênciaé produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify


*estagiário de Jornalismo
edição: Vitor Maia