Satisfação com a vida está associada a melhor saúde cardiovascular, segundo pesquisa

Maiores níveis de satisfação com a vida foram associados a maior saúde cardiovascular global. Estudo usou dados do ELSA-Brasil.


22 de dezembro de 2023


*Mariana Lage

Indivíduos mais satisfeitos com a vida podem, por exemplo, apresentar maior adesão a comportamentos saudáveis, como a prática de atividades físicas, o que levaria a uma melhor saúde cardiovascular. Foto: Hamilton Viana Viana/Pixabay

Um estudo do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG examinou a associação entre a satisfação com a vida e a saúde cardiovascular ideal. A pesquisa faz parte do doutorado da pesquisadora Aline Eliane dos Santos e demonstrou que pessoas com maior nível de satisfação com a vida possuem maior chance de apresentar melhor saúde cardiovascular. 

A pesquisa é uma análise transversal com dados de quase 13 mil participantes da segunda visita do ELSA-Brasil, o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, realizada entre 2012 e 2014. Criado em 2008, o ELSA acompanha a saúde de servidores públicos de instituições de ensino e pesquisa de seis capitais brasileiras para investigar a incidência e progressão das doenças crônicas não transmissíveis no país.

Percebe-se cada vez mais evidências científicas de que a satisfação com a vida está associada a um menor risco de adoecer. “Porém poucos estudos examinaram se a satisfação com a vida poderia promover melhor saúde, especialmente a saúde cardiovascular”, aponta Aline Santos. Indivíduos mais satisfeitos com a vida podem, por exemplo, apresentar maior adesão a comportamentos saudáveis, como a prática de atividades físicas, o que levaria a uma melhor saúde cardiovascular.

Ela também ressalta que esse é o primeiro estudo que aborda a relação entre a satisfação com a vida e saúde cardiovascular e mortalidade utilizando dados de uma população brasileira. “É importante estudar a satisfação com a vida em diferentes populações, pois ela é influenciada pelo contexto social, econômico e cultural em que as pessoas vivem. Esses resultados são particularmente importantes para o Brasil, já que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no país”, afirma a pesquisadora.

A saúde cardiovascular, definida pela ausência de doenças cardiovasculares e de seus fatores de risco, foi avaliada pelo Escore de Saúde Cardiovascular Ideal proposto pela American Heart Association. O escore de saúde cardiovascular global é composto por dois subescores: o de fatores comportamentais e o de fatores biológicos. O subescore de fatores biológicos considera as medidas de glicemia de jejum, pressão sanguínea, índice de massa corporal e colesterol total, enquanto o subescore de fatores comportamentais avalia aspectos como prática de atividade física, alimentação saudável e ausência de tabagismo. Ao analisar separadamente os dois subescores, maiores níveis de satisfação com a vida foram associados somente ao subescore de comportamentos.

Escore de Saúde Cardiovascular Ideal proposto pela American Heart Association. O escore de saúde cardiovascular global é composto por dois subescores: o de fatores comportamentais e o de fatores biológicos. Imagem: Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG.

O estudo também utilizou a Escala de Satisfação com a Vida (SWLS), de Diener, Emmons, Larsen, & Griffin (1985), que apresenta cinco afirmativas, para as quais as respostas variam de 1 (“discordo totalmente”) a 7 (“concordo totalmente”). Assim, o escore total de satisfação com a vida varia de 5 a 35 pontos e quanto maior o escore, maior a satisfação com a vida.

Escala de Satisfação com a Vida (SWLS), de Diener, Emmons, Larsen, & Griffin (1985), que apresenta cinco afirmativas, para as quais as respostas variam de 1 (“discordo totalmente”) a 7 (“concordo totalmente”). Imagem: Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG.

“É possível que um dos caminhos que conectam a maior satisfação com a vida à melhor saúde cardiovascular seja a redução dos efeitos deletérios do estresse, como a menor ativação das respostas inflamatórias, que são um mecanismo comum a várias doenças crônicas. A satisfação com a vida também estimula os indivíduos a adotar comportamentos saudáveis, como a prática de atividade física, e outros cuidados com a saúde”, explica a nutricionista e pesquisadora.

Baixo nível de satisfação com a vida também está associado ao risco de morrer 

O estudo também mostrou que níveis baixos de satisfação com a vida estão associados com maior  mortalidade por todas as causas em adultos de até 65 anos. Segundo a pesquisadora, esses resultados corroboram o entendimento da satisfação com a vida como um indicador relevante de saúde e desenvolvimento econômico e social. 

“Indicadores tradicionais de desenvolvimento, como o PIB per capita, têm sido insuficientes para medir o bem-estar da população. Como a satisfação com a vida é fortemente influenciada pelos determinantes sociais, como renda, emprego, escolaridade, entre outros, altos níveis de satisfação com a vida seriam reflexo de políticas de bem-estar social bem estabelecidas. Esperamos que os resultados atuais e pesquisas futuras colaborem para fortalecer a inserção da avaliação da satisfação com a vida em inquéritos nacionais de base populacional, como em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”, destaca a pesquisadora Aline Santos.

Título: Satisfação com a vida, saúde cardiovascular e mortalidade – Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto – ELSA BRASIL
Programa: Pós-Graduação em Saúde Pública
Nível: Doutorado
Autora: Aline Eliane dos Santos
Orientadora: Luana Giatti Gonçalves
Co-orientadora: Lidyane do Valle Camelo
Data de Defesa: 21 de novembro de 2023

* Estagiária sob supervisão de João Motta