Solenidade e homenagens na UFMG celebram 95 anos de “compromisso, resiliência e rebeldia”
Ontem, no campus Pampulha, comunidade acadêmica e convidados se reuniram pelo aniversário de uma das universidades mais antigas e reconhecidas do país.
06 de setembro de 2022 - 95 anos, UFMG
“Neste ano, a UFMG comemora seus 95 anos, e por coincidência, mas nem tanto, no mesmo dia em que se celebra o bicentenário da Independência do Brasil. São 95 anos de muita dedicação, compromisso, resiliência e também rebeldia, como cabe a uma instituição verdadeiramente mineira, que tem na liberdade o mote de sua gênese”, afirmou ontem a reitora Sandra Goulart Almeida, na sessão solene que marcou o aniversário. A UFMG foi fundada em 7 de setembro de 1927, ainda como Universidade de Minas Gerais – ela seria federalizada em 1949.
Um dos pontos altos da noite foi a entrega da Medalha Reitor Mendes Pimentel. Foram homenageados o pensador, ambientalista e escritor Ailton Krenak –, representado na cerimônia pela esposa, Irani Félix Viana Krenak –, Berenice Menegale, pianista que lecionou na Escola de Música e foi uma das idealizadoras do Festival de Inverno da UFMG, o escritor e crítico literário Fábio Lucas, que se formou e lecionou na Universidade, a professora emérita Nilma Lino Gomes, que foi ministra das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos, o médico e professor emérito Enio Cardillo Vieira (em memória; a viúva Elza Vieira recebeu a medalha) e o Instituto dos Advogados de Minas Gerais (IAMG), representado por seu presidente, Felipe Martins Pinto, que é professor da Faculdade Direito da UFMG.
“Nada mais apropriado, neste momento de anseios por solidariedade e colaboração, que recordarmos não apenas a história de nossa Instituição, mas também aqueles e aquelas que nos antecederam, as pessoas que, como os nossos homenageados, tanto contribuíram para sermos o que hoje somos”, disse Sandra Goulart Almeida. Ela destacou o primeiro reitor da UFMG, Francisco Mendes Pimentel, que dá nome à medalha, como defensor da democracia, da universidade pública e inspirador da assistência estudantil, que a Universidade inaugurou, de forma pioneira, em 1929.
Vida com direitos
Nilma Lino Gomes falou em nome dos homenageados. Ela disse que os tempos atuais pedem que se mantenha a alegria dos encontros e das celebrações da vida. “O momento é também de reafirmar que devemos lutar pela vida com direitos, principalmente para um grande grupo da população brasileira que sempre esteve à margem dos direitos e da igualdade”.
Nilma mencionou a “situação dramática“ vivida pelas universidades públicas brasileiras e lembrou que elas passaram a ser cobradas, sobretudo a partir dos anos 2000, a se tornarem, além de lócus de produção de ciência, tecnologia e inovação, também um ambiente em que se articula justiça social e justiça cognitiva. “As universidades têm ouvido e respondido a essas demandas”, afirmou a professora emérita, acrescentando que essa preocupação está expressa em documento entregue pelos dirigentes aos candidatos à Presidência da República.
A UFMG, segundo Nilma Lino Gomes, tem atuado de forma competente para articular excelência acadêmica e equidade, atenta às ações afirmativas, à necessidade de fortalecer a educação básica, à promoção da cultura com respeito aos diversos saberes produzidos pela sociedade. “A Universidade apresenta uma postura de lucidez indignada, produz conhecimento que vai na contramão da onda de notícias falsas, intolerância, violências e ataques à democracia”, disse a professora, que é vinculada à Faculdade Educação.
Quando recordou sua participação, “com muito orgulho”, em momentos de luta por democratizar ainda mais a UFMG, ela ressaltou que a Universidade “tem se redefinido por dentro ao aprender que daquelas e daqueles pertencentes às margens sociais, às periferias culturais, reais e simbólicas, a coletivos antes não pensados como sujeitos de conhecimento, vêm as maiores indagações para a própria ciência”.
Tempo, história e responsabilidade
Em sua fala, a reitora Sandra Goulart Almeida compartilhou reflexões sobre o tempo – “a UFMG celebra sua existência em um tempo, diria, espiralar, no qual passado, presente e futuro coabitam a mesma instituição” –, dados da história da criação da UFMG, uma das universidades mais antigas do país, e trechos do discurso de Mendes Pimentel na cerimônia de instalação da então Universidade de Minas Gerais, em 1927. Ele dizia que pesava sobre a instituição uma “formidável responsabilidade” e que o animava “a fé robusta de que os docentes mineiros e a juventude de minha terra não recuarão covardemente do empreendimento que lhes é confiado”.
“Gosto de pensar que, se estivesse hoje conosco, o reitor Mendes Pimentel estaria certamente orgulhoso da instituição que fundou e ajudou a construir e cuja comunidade tem atuado com responsabilidade, compromisso público e comprometimento com os ideais democráticos e republicanos”, disse a reitora.
A democracia orienta a UFMG em dois eixos, afirmou Sandra Goulart Almeida. “Por um lado, é com base nela que orientamos nossos conselhos, câmaras e comissões, responsáveis por nossa capacidade de formular políticas e tomar decisões maduras e assertivas. É o princípio colegiado que materializa nossa vocação democrática. Por outro, a democracia está na base de nossa formação cidadã, calcada no respeito às diferenças, no debate e na abertura a todos os segmentos sociais. Chamamos a isso democratização de acesso, movimento que ganhou corpo nos últimos 20 anos e tingiu a UFMG de várias cores, as cores que representam o povo brasileiro.”
A reitora da UFMG citou Mendes Pimentel mais uma vez para ressaltar que cabe à universidade interpretar o mundo, estimular o pensamento crítico, formar cidadãos para esse exercício e para a vida. “Cabe a ela ser plural, inclusiva. Cabe ser protagonista da passagem de um passado turbulento para um tempo em que finalmente o Brasil poderá enfrentar desafios, deixando para trás seu passado de país injustamente desigual”, disse a reitora, que ao longo de seu discurso buscou referências em pensadores e artistas como Darcy Ribeiro, Ailton Krenak, Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina, Milton Nascimento e Fernando Brant.
Sandra Goulart enfatizou que a UFMG permanece em destaque como universidade pública, de qualidade e referência, como ficou demonstrado por sua atuação na pandemia de covid-19 – na pesquisa, na assistência hospitalar, na divulgação científica –, mas fez questão de inserir a instituição no conjunto das universidades públicas brasileiras. Ela disse que essas universidades “são indispensáveis para o desenvolvimento inovador e sustentável do Brasil, sem dependência de outros países. Se somos instados pelas efemérides a pensar no futuro da nação, não podemos esquecer que esse futuro terá de passar pela valorização da educação e da ciência”.
Inspirada em versos de Cora Coralina, Sandra Goulart Almeida desejou longa vida à UFMG, “essa senhora com muito chão em seus olhos, muita estrada em seu coração, mas, sobretudo, muita esperança nos seus passos. Aquela esperança que, lembrando também Santo Agostinho, tem duas filhas lindas: a indignação e a coragem. Porque nós queremos um país melhor”.
Parcerias celebradas
Um dos integrantes da mesa solene, o secretário de Pesquisa e Formação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcelo Marcos Morales, destacou a parceria com a UFMG em diversos temas e, especialmente, sua contribuição como integrante da Rede Vírus, criada pelo Ministério ainda antes da declaração da pandemia de covid-19, como desenvolvedora da vacina SpiN-Tec e como sede do futuro Centro Nacional de Vacinas. “A UFMG propicia conexões importantes entre ciência, tecnologia, inovação e políticas públicas”, disse.
Felipe Attiê, subsecretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Minas Gerais, afirmou que o desempenho da UFMG leva Minas e o Brasil para o mundo. “O governo do estado acredita na capacidade da UFMG de construir esperança por meio da pesquisa tecnológica e social. A universidade é jovem e tem muito a prometer”, salientou.
Representante do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, o desembargador José Marcos Vieira ressaltou que a Corte reconhece as dimensões da produção de conhecimento e de pensamento crítico na UFMG. Professor da Faculdade de Direito, ele lembrou que, neste ano, a instituição completa 130 anos. “Não há direito e justiça sem liberdade, e liberdade não existe sem conhecimento. Precisamos trabalhar pela democratização do conhecimento”, disse Vieira, em nome do presidente do tribunal, desembargador José Artur de Carvalho Pereira Filho.
A mesa solene teve a presença ainda do vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, dos reitores Francisco César de Sá Barreto (gestão 1994-1998), Ronaldo Pena (2006-2010) e Jaime Ramirez (2014-2018) e da reitora da Universidade do Estado de Minas Gerais, Lavínia Rodrigues.
O Ars Nova – Coral da UFMG fez uma apresentação – encerrada com Carta à República, de Milton Nascimento e Fernando Brant – e cantou o Hino Nacional.
Página no portal web contém as informações sobre as comemorações dos 95 anos da UFMG.
Itamar Rigueira Jr. – Centro de Comunicação da UFMG