Sonho de uma pessoa cega acontece por outras percepções sensoriais

Nova série de rádio “Mundo dos Sonhos” investiga como os sonhos acontecem e sua relação com o cotidiano dos seres humanos


05 de junho de 2017


Nova série de rádio “Mundo dos Sonhos” investiga como os sonhos acontecem e sua relação com o cotidiano dos seres humanos

Desejos, problemas, memórias recentes ou antigas… Os sonhos estão ligados às vivências de um ser humano. Pessoas com limitações visuais também são capazes de produzir sonhos como qualquer outro indivíduo. A diferença está na forma que elas percebem o mundo: como uma pessoa cega não tem memórias imagéticas, os outros sentidos são encarregados de gerar seus sonhos.

De modo geral, sonhar pode ser traduzido como a criação de narrativas imagéticas pelo cérebro, que armazena uma infinidade de memórias a partir das sensações que um ser humano tem no dia a dia. A maior parte das pessoas relaciona os sonhos com imagens, o que nem sempre acontece. A psicóloga e mestre em Teoria Psicanalítica pela UFMG, Liliane Camargos, explica que as pessoas cegas não sonham com figuras visuais. “Se uma pessoa nunca teve o registro da percepção visual, não tem como sonhando essa memória perceptiva ser criada”, afirma.

De acordo com Liliane, os indivíduos com limitações visuais também sonham as vivências adquiridas no cotidiano, a diferença está no uso dos outros sentidos. “No sonho dessa pessoa, o que vai aparecer são justamente os elementos da percepção que ela tem quando está acordada”, esclarece. É a audição, o toque ou até o olfato, os responsáveis pela produção dos sonhos. “Ela vai sonhar com todo o resto das imagens perceptivas que tem na vida”, completa a psicóloga.

Mesmo pessoas que perderam a visão ao longo da vida, ou seja, tiveram a percepção visual, não conseguem sonhar sempre com figuras imagéticas. “Se ela vai perdendo a visão aos poucos, a tendência é que o sonho repita a realidade dela”, diz Liliane Camargos. O nível da percepção visual de um indivíduo vai refletir o que ela vê em seus sonhos. Se sua percepção é baixa, o sonho apresentará a mesma sensação. “Se ela perder completamente a visão, a tendência é que, com o tempo, as lembranças visuais dela vão se apagando”, acrescenta.

Há, ainda, uma dificuldade das pessoas que enxergam em entender como os cegos reproduzem suas percepções nos sonhos. A especialista acredita que isso acontece porque os seres humanos dependem muito do sentido da visão para sua percepção geral de mundo: “É muito raro uma pessoa que enxerga ter um sonho que não seja visual”. Compreender a importância dos demais sentidos de um indivíduo é, portanto, fundamental para entender os sonhos de pessoas com qualquer tipo de limitação sensorial, reforçando a ideia de que todos podem sonhar.

Ilustração: Clarice Passos

Como o sonho acontece

Apesar de algumas pessoas acharem que não têm a capacidade de sonhar, o médico do sono e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Rogério Beato, lembra que os sonhos são comuns a todos os seres humanos. Isso porque os sonhos acontecem na fase REM do sono, que ocorre sempre que o indivíduo adormece. “Existem áreas situadas em uma região chamada tronco encefálico que estão envolvidas na produção do próprio sono REM”, explica Beato. Regiões cerebrais envolvidas no processamento da informação visual também participam desse processo. “Elas se tornam ativadas durante o acontecimento dos sonhos”, complementa.

Quando uma pessoa tem a impressão de que não sonhou é porque ela não se lembra dos sonhos que teve enquanto estava dormindo. “Em geral, todo mundo sonha”, garante Rogério Beato. Uma vez que a fase REM se repete ao longo do sono, o indivíduo produz diversos sonhos durante a noite, o que não significa que ele irá se lembrar de todos. “É importante ter a ideia de que o que está mais próximo do meu despertar, eu lembro mais”, conclui o professor.

Sobre o programa de rádio

O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 185 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

Redação: Bruna Leles | Edição: Lucas Rodrigues