Superação da violência contra mulheres guia programa

Promoção de saúde integral e superação do ciclo de violência são marcas dos projetos do Para Elas.


30 de março de 2020 - , ,


Promoção de saúde integral e superação do ciclo de violência são marcas dos projetos do Para Elas.

Desenvolver promoção de saúde e formar profissionais com atitudes e habilidades necessárias para prestar cuidado integral à mulher em situação de violência e de vulnerabilidade são objetivos que guiam o programa “Para Elas, Por Elas, Por Eles, Por Nós”. A ação nasceu em 2011 e já beneficiou centenas de mulheres (e também homens) no Brasil, com cursos para profissionais de saúde e segurança, rodas de conversa e outras iniciativas.

“O processo de formação do programa durou cerca de cinco anos. Com a ajuda de professores e mestrandos, nós preparamos uma estratégia de oficina e de elementos para levar a esses indivíduos redes de apoios”, explica a professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social, Elza Melo, criadora do Para Elas. O programa é composto de vários projetos, como o Atendimento Ambulatorial à Mulher em Situação de Violência, Doe sua biju, Projeto Guarda municipal, e o curso Para Elas: atenção integral à saúde da mulher em situação e violência.

“É uma guerra de homens e mulheres contra a violência”, aponta a professora

A “Atenção Integral à Saúde da Mulher em Situação de Violência: Para Elas. Por Elas, Por Eles, Por Nós” é o sétimo projeto a ser abordado na série de reportagens “Janelas: da Universidade para a comunidade”. Mensalmente, a série trará exemplos de projetos de pesquisa, ensino e extensão da Faculdade de Medicina que tem como objetivo contribuir com o desenvolvimento da sociedade.

Atendimento Ambulatorial à Mulher em Situação de Violência

Marcela,à frente, sorri com o grupo de teatro Marielle Vive, do qual participa. Foto: Acervo pessoal

Uma das participantes do ambulatório, Marcela Teófilo chegou ao serviço por encaminhamento do Núcleo de Defensoria Pública Estadual da Mulher (Nudem), após passar por uma situação de violência doméstica e vulnerabilidade. “O projeto trouxe uma rede de apoio e ressignificação em um momento delicado, decisivo e revolucionário da minha trajetória”, comenta Marcela. Depois de participar de oficinas e rodas de conversa, ela teve acesso a muitas situações de convivência e aprendizado às quais não conhecia. “O Para Elas participa do meu reerguer após vários tropeços”, agradece.

Formada em Filosofia, Marcela participa do Para Elas há cerca de dois anos. Ela destaca a intersecção que ele propicia. “Todos os envolvidos conseguem compreender e sentir que enfrentar e prevenir a violência vai além de manter dinâmicas com as vítimas”, analisa Marcela.

“Com o surgimento da disciplina do mestrado (chamada Para Elas – bases teóricas, metodológicas e práticas de atenção a mulheres em situação de vulnerabilidade violência), colocamos como objeto a discussão sobre trabalho realizado no Brasil inteiro. Dentro dessa disciplina que surgiu a ideia de criarmos um ambulatório”, conta Elza. Dessa forma, foram criados um mestrado, linhas de pesquisas e disciplinas voltadas a atenção da mulher em situação de violência

“O Para Elas é um jardim onde podemos plantar belos ajustes de realidade e consciência”, elogia a beneficiada.

Em parceria com a professora Myrian Celani, antiga coordenadora de ginecologia do Hospital das Clínicas (HC), foi construído o ambulatório do Para Elas no Instituto Jenny Faria, no quarto andar do HC. O funcionamento habitualmente é nas terças-feiras, de 8h às 12h.

Durante a pandemia de Covid-19 as atividades do Hospital das Clínicas foram alteradas. Essa e outras informações sobre atendimento contidas na matéria são passíveis de mudança nesse período.

O ambulatório oferece atividades como a roda de conversa, onde surgiu a criação do Grupo de Teatro Marielle Vive. Fornecendo atendimentos médicos em várias áreas da saúde, como ginecologia, saúde da família, psiquiatria, clínica médica, psicologia, enfermagem, assistência social, direito, homeopatia, acupuntura, o ambulatório também criou oficinas que são levadas para quase todas as regionais de Belo Horizonte.

Roda de Conversa no Ambulatório Jenny Faria. Foto: Acervo Para Elas.

Além do ambulatório do Jernny Faria, o programa desenvolve outra ação com a mesma proposta dentro da rede de atenção primária de Belo Horizonte. As atividades ocorrem em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, na unidade de saúde São Francisco, com encontros habitualmente nas segundas-feiras.

A professora Myrian Celani conta que várias mulheres participantes da roda de conversa estão levando a ideia para as suas comunidades e trazendo mais mulheres para participar do Para Elas. “A importância é diminuir a violência em qualquer meio, não só a violência física como a violência psíquica, quanto a violência científica, contra o preconceito de cor, idade, etc”, comenta a ginecologista.

Uma pesquisa realizada em 2019, na segunda edição do relatório “Visivel e Invisivel: A Vitimização de Mulheres no Brasil”, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Instituto de Pesquisa Datafolha, mostra que 42% das mulheres brasileiras que sofreram violência foram alvo em sua própria casa, enquanto 29,1% afirmaram ter sofrido a violência na rua. Internet e trabalho correspondem a 8,2% e 7,5% do total, respectivamente, seguidos por bar/balada (2,7%) e escola/faculdade (1,4%).

Doe sua biju

A professora Elza Melo é coordenadora do projeto. Foto: Carol Morena.

“Quando começamos o Para Elas percebemos que havia muitas mulheres que não tinham condições de deslocamento, então começamos a pensar em uma maneira para ajudá-las, foi assim que surgiu o Projeto Geração de renda, Doe sua Biju”, lembra Elza. O objetivo principal, é arrecadar bijuterias para que sejam reaproveitadas em oficinas de restauração formadas por mulheres em situação de vulnerabilidade social, criando oportunidade de transformar a realidade social na qual estão inseridas.

Mulheres recuperam bijuterias. Foto: Acervo Para Elas.

Além da bijuteria, são aceitos outros materiais, como linhas, agulhas, retalhos de tecidos e miçangas, que são usados na restauração e confecção de novas peças.

A doação pode ser feita na entrada da Faculdade de Medicina, mas o projeto também já recebeu doações do país inteiro.

Toda semana acontecem bazares em várias comunidades e o dinheiro arrecadado é dividido em dois: metade é repartido entre as mulheres e a outra metade para a os gastos com a própria produção. O projeto agora recebe recursos financeiros da Secretaria de Segurança para a reciclagem das bijuterias.

Formação para profissionais de saúde

O curso “Para Elas: atenção integral à saúde da mulher em situação de violência” foi criado em 2019, em parceria com o Núcleo de Educação de Saúde Coletiva (Nescon) e já está em sua quinta edição. O conteúdo aborda a atenção à saúde da mulher como uma das prioridades das políticas públicas de saúde do Brasil, apresentando as principais correntes teórico-metodológicas que embasam a abordagem da violência em geral

O curso faz parte da Rede Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS), é completamente gratuito, online e segue a metodologia autoinstrucional. O público alvo são os profissionais de saúde de nível superior. Interessados podem acessar o site do Nescon e se inscrever até o dia 25 de novembro deste ano. A disponibilidade é de 10 mil vagas.

Capacitação da Guarda Municipal de Belo Horizonte

No mesmo sentido que a capacitação para os profissionais da saúde, o Para Elas oferece também capacitação para profissionais da segurança pública. Caçula do programa, o projeto com a Guarda Municipal de Belo Horizonte foi construído em parceria com a Secretaria de Segurança Públicado município e inaugurado em março de 2020.

A primeira aula de conteúdo técnico aconteceu no dia 12 de março. As aulas têm ampla abordagem, que vão desde os números de violências até várias teorias que a explicam, com o sentido de detectar e definir elementos de intervenção e construção de um plano de abordagem a mulher em situação de violência por parte da Guarda Municipal.

“Temos a parte de normas, com diagnóstico teórico profundo, para no fim gerar ações de enfrentamento e construção de planos. Todos os participantes farão grupos com propostas de prevenção e de abordagem”, complementa Elza. O curso tem a participação de 32 guardas municipais.

A violência contra a mulher é uma chaga que afeta milhões diariamente. Se você está em um ciclo de violência, procure ajuda pelo número 180.

Projeto Janelas: da Universidade para a comunidade veiculará, a cada mês, exemplos de projetos de pesquisa, ensino e extensão da Faculdade de Medicina para mostrar como contribuem para o desenvolvimento da sociedade.

Série Janelas: