Superbactérias: controle depende de toda a população

Infecções causadas por bactérias multirresistentes tendem a ser principal causa de óbitos a partir de 2050, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde


20 de outubro de 2017


Infecções causadas por bactérias multirresistentes tendem a ser principal causa de óbitos a partir de 2050, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS)

Quando um indivíduo interrompe o uso do antibiótico recomendado pelo especialista devido ao desaparecimento dos sintomas ou utiliza o remédio sem prescrição médica, ele está contribuindo para o surgimento das bactérias multirresistentes, também conhecidas como superbactérias. Esses microorganismos estão cada vez mais resistentes aos antimicrobianos disponíveis no mercado e, de acordo com relatório divulgado no último mês de setembro pela Organização Mundial da Saúde (OMS), doenças relacionadas a esse tipo de bactéria poderão representar a principal causa de óbitos no mundo a partir de 2050.

Anualmente, 700 mil pessoas morrem no mundo em decorrência de infecções causadas por superbactérias, sendo 23 mil no Brasil. Apesar de o surgimento dessas bactérias indicar um processo natural e inevitável, já que o uso de antibióticos seleciona os organismos mais adaptados, que, por sua vez, transmitem os genes da resistência a seus descendentes, o uso indiscriminado de antimicrobianos está acelerando esse processo. “O controle das superbactérias depende de todos nós. Dos médicos, que devem receitar os antibióticos corretamente; dos farmacêuticos, que só devem vender esses remédios quando o paciente tiver a receita, como a lei determina; e da população, que deve usar o medicamento da forma prescrita pelo médico”, afirma a microbiologista e professora do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Paula Magalhães.

As bactérias habitam a terra há mais de 4 bilhões de anos e muitas delas estão presentes na pele e no intestino humano. Algumas espécies causam doenças graves, como pneumonia, tuberculose, meningite, infecção urinária e gonorreia, dentre outras. Nos últimos vinte anos, infecções causadas por superbactérias se tornaram mais frequentes devido ao uso indiscriminado de antibióticos. E apesar de a prática ser proibida, fazendeiros injetam regularmente antimicrobianos como a penicilina em animais saudáveis, com o objetivo de melhorarem as condições do rebanho.

Superbactéria: Reprodução. CDC / BBC Brasil

Tratamento complexo

A primeira superbactéria identificada pelos cientistas foi a Klebsiella pneumoniae, conhecida como KPC, que produz uma substância chamada carbapenemase, responsável por inativar diversos antibióticos. Os sintomas das infecções causadas pelas bactérias comuns são semelhantes àqueles provocados por bactérias multirresistentes. Se, por um lado, esses microorganismos não apresentam maior capacidade de causar doenças, por outro o tratamento se torna mais complicado.

“As drogas eficazes contra essas infecções estão se tornando escassas. A indústria farmacêutica deve, portanto, se esforçar para desenvolver novas substâncias antimicrobianas”, afirma a professora do Departamento de Propedêutica da Faculdade de Medicina e presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital das Clínicas da UFMG, Wanessa Clemente.

Ambiente hospitalar

Pessoas em situação de saúde debilitada, desnutridas, transplantadas ou com o vírus HIV/Aids, além de pacientes internados em hospitais, estão mais suscetíveis às infecções por qualquer tipo de bactéria, incluindo as multirresistentes. E essas surgem com maior frequência em ambientes hospitalares.

De acordo com Wanessa Clemente, a principal medida a ser adotada por profissionais da saúde e visitantes a fim de evitarem as infecções nesses locais é a higienização das mãos, antes e depois do acesso ao leito do paciente. Além de recomendar o uso do álcool em gel, a professora indica a limpeza periódica dos aparelhos de celular.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 187 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

Redação: Warlen Valadares | Edição: Lucas Rodrigues