Unicef lança ferramenta para monitorar desenvolvimento infantil

Novo indicador teve contribuição de professora da Faculdade de Medicina da UFMG e é instrumento para monitoramento do cumprimento de meta 4.2.1 dos ODS da ONU.


24 de novembro de 2020 - , , ,


Captura de tela da ferramenta no site da Unicef.

A professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Cláudia Regina Lindgren, representou o Brasil entre especialistas do painel da Unicef para definição de padrões globais usados na construção do Índice de Desenvolvimento da Primeira Infância 2030 (ECDI2030, na sigla em inglês). O material foi lançado nesta segunda-feira, 23 de novembro, e está disponível online.

É a primeira vez que instrumento como esse, de alcance mundial, conta com adaptação para o país desde seu lançamento. “O instrumento foi criado para ser acoplado em outros inquéritos populacionais já utilizados pelos países. É pequeno, rápido, culturalmente adaptado e principalmente indicado para levantamento de dados no nível populacional, visando a implementação, monitoramento e avaliação de programas de promoção do desenvolvimento infantil”, conta a professora Cláudia Lindgren. É necessário um treinamento mínimo de três horas para aplicação e interpretação dos dados.

O Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef) é um órgão das Nações Unidas (ONU) que tem como objetivo promover a defesa dos direitos das crianças, ajudar a dar resposta às suas necessidades e contribuir para o seu desenvolvimento.

O índice pretende servir para o monitoramento do item 4.2.1 dos Objetivos do Desenvolvimento Social (ODS) da ONU. Para isso, ele traz informações sobre o aprendizado, o bem-estar psicossocial e a saúde de crianças de 24 a 59 meses. São 20 questões para todas as idades, sendo que o número de “acertos” esperado para cada idade aumenta progressivamente. “Por exemplo, aos 24 meses, espera-se um acerto de 7 itens para que a criança seja considerada ‘on-track’ (mínimo esperado para a idade). Já aos 59 meses o esperado são 15 acertos, no mínimo”, explica Cláudia.

A ação está alinhada ao conceito de Nurturing Care, que propõe ações no campo da saúde, nutrição, cuidado responsivo, segurança e proteção e aprendizagem inicial visando a promoção do desenvolvimento infantil integral. Segundo a professora, a publicação, sem dúvida, poderá ser um instrumento para a sociedade civil participar ativamente, cobrando pelo cumprimento dos ODS.

“Somos um dos países do mundo que menos produz informação sobre o desenvolvimento infantil no nível populacional. Esta é uma excelente oportunidade para os governantes dos três níveis (municipal, estadual e federal) gerarem dados que embasam a tomada de decisão sobre onde, como e quando  investir os recursos públicos, baseados em evidências. Além disso, pelas características do questionário, podemos fazer pesquisas amplas e repetidas que permitam monitorar os avanços e comparar os resultados, tanto internamente como internacionalmente”, afirma.

Comitê de especialistas na área de avaliação do desenvolvimento infantil se reuniu em agosto de 2019 para validação final do instrumento. Foto: arquivo pessoal.

“A esperança é que, em 2030, possamos dizer que a maioria de nossas crianças de 24 a 59 meses está se desenvolvendo minimamente dentro do esperado. E que aquelas que não estão recebam o cuidado e o apoio que precisam para poder alcançar as outras crianças”

Ela explica que geralmente os instrumentos são criados em países desenvolvidos, com culturas muito diferentes da nossa, e que leva-se muito tempo para um país apropriar-se de uma versão adaptada. Por isso é muito importante já termos uma versão em português brasileiro e de acesso livre, com a chancela do Unicef.

ECDI2030

Em 2015, o desenvolvimento da primeira infância passou a fazer parte dos ODS. Essas metas globais incluem o compromisso de garantir que, até o ano 2030, todas as crianças tenham acesso equitativo ao desenvolvimento de qualidade e a oportunidades de aprendizagem na primeira infância.

Para o ECDI, o indicador 4.2.1 foi escolhido para monitorar especificamente o impacto da ação governamental em relação a essa meta. O Unicef foi encarregado de liderar o desenvolvimento de uma medida para monitorar o progresso. O índice captura a realização de marcos importantes de desenvolvimento por crianças com idades entre 24 e 59 meses. As mães ou cuidadores primários respondem a 20 perguntas sobre a maneira como seus filhos se comportam em certas situações cotidianas e as habilidades e conhecimentos que adquiriram.

O questionário foi traduzido para vários idiomas e, além do inglês, está disponível em árabe, chinês, francês, português, português (brasileiro), russo e espanhol.

Confira vídeo do lançamento:

Em agosto de 2019 foi realizada uma reunião de um comitê de experts na área de avaliação do desenvolvimento infantil para validação final do instrumento. “Participei dessa reunião como única representante do Brasil. Discutiu-se, principalmente, o rationale dos pontos de corte que permitissem distinguir as crianças que estavam se desenvolvendo minimamente dentro do esperado para cada idade, considerando a experiência dos pesquisadores e as diferenças culturais entre os países”, conta Lindgren. 

Reunião de especialistas ocorreu em Nova York, em prédio da Unicef. Foto: arquivo pessoal.

Cerca de 20 países com diferentes perfis econômicos estavam presentes na reunião. O resultado foi discutido entre estatísticos vinculados ao Unicef, que aprovaram os métodos e técnicas utilizados para criar o ECDI 2030.