Doenças inflamatórias intestinais triplicaram nos últimos anos

Urbanização e uso de antibióticos na infância podem desencadear essas doenças


25 de novembro de 2019 - , , , ,


Lethícia Pechim*

Crianças que receberam mais antibióticos nos cinco primeiros anos de vida, pessoas que não foram amamentadas, que cresceram em locais com saneamento básico ou consumiram muitos alimentos industrializados na infância são mais propensas às doenças inflamatórias intestinais (DII). É o que indica a pesquisa “Epidemiologia do IBD: o que está acontecendo no mundo em desenvolvimento?”, feita com a participação do professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, Luíz Felipe de Campos. O estudo também mostra que a incidência das doenças inflamatórias intestinais triplicou no Brasil e tem aumentando em outros países em desenvolvimento.

Para alertar sobre os cuidados e as doenças que podem ocorrer no intestino e região anal, o Saúde com Ciência dedica série especial sobre o tema. Ouça aqui

Entre as DII mais comuns, estão a colite ulcerosa, que atinge 59% das pessoas, e a doença de Crohn, com prevalência em 41% dos cerca de 160 mil pacientes investigados de 2008 a 2017, em todos os 27 estados. O maior número dessas doenças ocorreu no sudeste de São Paulo, e o menor no norte do Amapá.

 “A nossa flora intestinal começa a ser formada quando a gente é criança. E se a gente tem antibiótico entrando na rodada, passa a ter contato muito cedo com alimentos industrializados e leva uma vida muito fora da natureza, sem o contanto com o meio ambiente, a tendência é que exista um desenvolvimento do processo do corpo que aumenta a incidência dessas doenças”, esclarece o professor Luiz Felipe de Campos.

O que é flora intestinal?
A microbiota intestinal, conhecida como flora intestinal, é o grupo de bactérias que vivem no intestino e auxilia no controle de microorganismos que causam doenças, bem como ajuda na digestão de alimentos, dentre outras funções importantes para a manutenção do intestino saudável.

O que são as DIIS?

De acordo com a professora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, Beatriz Deoti, as doenças inflamatórias intestinais são enfermidades autoimunes, isto é, quando o corpo passa a não reconhecer o intestino como algo que faz parte do organismo. A professora faz uma analogia a um espinho que se aloja na mão. “Esse espinho se torna um corpo estranho, então o organismo vai tentar expulsá-lo”, explica.

Os sintomas das DII são semelhantes aos da gripe como cansaço, emagrecimento, diarreias e fraqueza. A ida ao especialista pode evitar que essas doenças cheguem a níveis mais críticos.

Existe cura?

Não existe cura para as DII, mas é possível ter a remissão dessas doenças com tratamentos medicamentosos, que são extremamente caros, mas ofertados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Como forma de prevenção, os especialistas recomendam evitar o uso de antibióticos, ter mais estímulos para o aleitamento materno, comer muitas fibras e evitar ao máximo o consumo de alimento industrializados.

Doença de Crohn x colite ulcerosa
A doença de Crohn atinge qualquer parte do trato gastrointestinal, desde a boca até o ânus. Já colite ulcerosa ocorre do intestino grosso (cólon) ao reto.

Sobre o Programa de Rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.


*Lethícia Pechim  – estagiária de Jornalismo
edição: Karla Scarmigliat