Uso excessivo de telas está associado à saúde mental de diferentes gerações    

Sintomas de estresse, depressão e ansiedade foram observados em resultado de pesquisa da UFMG


25 de outubro de 2023 - , , , ,


* Vitor Pepino

Uso de telas aumentou durante a pandemia da covid-19. Foto: Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG.

O uso excessivo de telas está ligado a uma piora da saúde mental de seus usuários, independentemente da idade, segundo mostra tese defendida no Programa de Pós-Graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da UFMG. Os resultados mostraram, de forma inesperada, a presença da nomofobia (medo de ficar longe do celular) em idosos. Além disso, dos estudos que avaliaram as crianças, 72% deles encontraram aumento da depressão associado ao uso excessivo de telas. 

A possível explicação da relação é o aumento do tempo em frente às telas no dia a dia após a pandemia do Covid-19, principalmente pelo tipo de utilização. Elas estão, cada vez mais, sendo utilizadas para trabalho, entretenimento e estudo. “Percebeu-se que os pacientes jovens com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e depressão tinham as telas a todo momento e, no período de pandemia, as telas foram as principais aliadas contra a solidão. Porém, as consequências desse uso excessivo podem ser vistas agora”, afirma a pesquisadora e autora do estudo Renata Maria Silva Santos.

Outra motivação para esses resultados é a utilização dos dispositivos como distração para as crianças enquanto os pais buscam realizar suas tarefas, contribuindo, então, para o aumento nas horas de uso. Nesse sentido, o distanciamento entre pais e filhos pode provocar um aumento da disposição para a depressão nas crianças.

O estudo foi feito por revisão sistemática, isto é, análise de estudos primários sobre o assunto, totalizando 142 artigos e mais de dois milhões de pessoas de diferentes países acompanhadas, trazendo uma amostra abrangente para o estudo. “A maior parte dessas pessoas são adolescentes, tendo em vista que são os nativos digitais. Porém o que chama atenção é a quantidade de idosos que desenvolveram a fobia de ficar separado do celular. Esse estudo é um alerta sobre o uso excessivo das telas, relação das pessoas com ela e o conteúdo consumido”, aponta a pesquisadora.

A pesquisa aponta que a participação em redes sociais foi responsável por aumentar o risco de depressão em meninas, uma vez que o conteúdo fornecido nas redes é de corpos perfeitos, gerando comparação e afetando a saúde mental. Da mesma forma em idosos que consomem conteúdos violentos na televisão. “A conclusão que a maioria dos estudos teve, é de que não basta limitar o tempo de tela, mas também enriquecer o tempo fora dela, tentando manter a mente ativa. A falta de gerenciamento do tempo aumenta o estresse de forma considerável, visto que nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 30% dos adultos utilizam de jogos em seus aparelhos, atrapalhando as tarefas do dia a dia”, defende a pesquisadora.

A partir desses resultados, os pesquisadores sugerem algumas soluções, como determinar o tempo de tela de acordo com a idade e buscar os dispositivos com maiores possibilidades de socialização, como no caso do cinema. Além disso, o incentivo às atividades físicas ao ar livre são essenciais para combater o uso excessivo de aparelhos. Para a pesquisadora, “O estudo aponta que a dependência pode diminuir em 10% caso o smartphone esteja a um metro do usuário, contribuindo para a carga cognitiva, fator responsável pelo raciocínio”.

Renata Santos defende que o trabalho pode auxiliar a população que procura ajuda pela saúde mental. Foto: Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG.

Segundo os estudos analisados, nota-se a diminuição do Quociente de Inteligência (QI) para antes do previsto. Isso explica-se pela falta de incentivo a atividades que necessitam pensamento rápido e outras habilidades que contribuem para o funcionamento ativo do cérebro. Essas atividades podem ser realizadas mesmo com a tela, desde que aconteça interação: “Quando a pessoa interage com a tela, acontecem estímulos cognitivos. Isso pode melhorar a memória e o raciocínio, principalmente em idosos. Com esses ganhos, o processo depressivo pode  demorar mais a se instaurar”, aponta a autora do trabalho. 

Renata Santos defende que o trabalho pode auxiliar a população que procura ajuda pela saúde mental, uma vez que consegue entender melhor a atuação das telas neste âmbito e manejar de forma adequada a partir dos dados do estudo. “Mesmo estando imersos nesse mundo digital, é preciso buscar maneiras de conviver de forma saudável com as telas, e auxiliar aqueles que são afetados pelo uso inadequado”, conclui.

Pesquisa: As associações entre tempo de tela e saúde mental no ciclo vital
Programa: Programa de Pós-Graduação em Medicina Molecular
Autora: Renata Maria Silva Santos   
Orientador: Professor Marco Aurelio Romano Silva 

Saúde com Ciência

No programa de rádio Saúde com Ciência desta semana, vamos conversar sobre a saúde mental e sua associação com o tempo de tela, para entender como os diferentes uso dos dispositivos atinge ao longo da vida. Acesse aqui.

O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelas principais plataformas de podcasts.

*Estagiário sob supervisão de João Henrique Motta