Comunidade se despede de Angelinho, como era carinhosamente chamado o professor Ângelo Machado


08 de abril de 2020 - ,


Professor Ângelo Machado como professor homenageado no jubileu de prata. Foto: Bruna Carvalho/ Faculdade de Medicina da UFMG

Uma carreira brilhante como mestre, mas também uma referência de personalidade. Assim é lembrada a trajetória de Ângelo Machado, que faleceu na última segunda-feira (6) e é homenageado por seus colegas docentes da Faculdade de Medicina da UFMG, unidade onde iniciou sua carreira de docência.

Na data, o Departamento de Clínica Médica da Instituição, onde permaneceu lotado como professor de anatomia geral e neuroanatomia antes de atuar no Instituto de Ciências Biológicas (ICB), manifestou agradecimento por toda a sua contribuição:


Faleceu hoje nosso querido e ilustre professor Emérito Ângelo Machado aos 85 anos. Escritor, entomologista, cientista, ambientalista, poeta, pós-doutor na Northwestern University (Chicago), membro da Academia Brasileira de Ciências, Mineira de Medicina e Mineira de Letras. Mesmo aposentado, ministrou aulas como voluntário até 2019. Era dotado de um humor que nos alegrava emocionava a todos. Escreveu inúmeros livros de sucesso, vários para crianças, outros sobre anatomia humana. Lembrado por muitos foi divertidíssimo livro “Manual de sobrevivência em festa e recepções com bufê escasso”, enorme sucesso, também, no teatro. Seu desaparecimento nos comove a todos, em especial professores da Faculdade de Medicina da UFMG. Todos devemos muito a ele. Em função da pandemia que tanto nos aflige, parte sem que possamos nos despedir dele pessoalmente. Uma frase lembrada pelo nosso colega Luiz Osvaldo Rodrigues, o cartunista Lor, dá o tom de seu inescapável humor: “Detesto velórios. Não pretendo comparecer nem ao meu”. Se não podemos nos despedir dele, nosso querido professor Ângelo Machado poderá estar certo que de alguma forma que em nossa memória nunca caberá a palavra despedida, mas para sempre, a palavra gratidão

Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG

Suas inúmeras qualificações, com destaque para o bom humor e o talento em ensinar, é comum no relato de quem pôde conhecer Ângelo Barbosa Monteiro Machado, carinhosamente chamado pelos seus de “Angelinho” ou “Angelim”, seguindo o sotaque mineiro. A professora do Departamento de Pediatria da Faculdade, Valéria de Melo Rodrigues, por exemplo, que foi sua aluna na década de 70, cita como uma das marcas históricas o livro que ele escreveu e até hoje é usado como bibliografia básica do curso de Medicina.


“Muita honra de ter sido sua aluna, pois era inigualável: muito engraçado, simples, amoroso com sua família, zoólogo, autor de teatro, inclusive do Show Medicina, escritor de livros infantis premiados e adultos, membro de Academia de Letras e de Medicina, sempre amigo e várias vezes homenageado pelos estudantes, como todos sabem. Gênio e ao mesmo tempo tão humano! Por isso foi embora, em silêncio, sem despedidas, para ocupar seu lugar merecido ao lado dos imortais…”

Valéria de Melo

Foto: Carol Morena

O professor Geraldo Brasileiro, do Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal da Faculdade, também demonstra grande admiração e respeito por Ângelo Machado ao lembrar da sua história, desde que o conheceu como aluno. De acordo com Brasileiro, a excelente capacidade de Ângelo explicar e tornar atraentes assuntos tão complexos como a anatomia e o funcionamento do sistema nervoso central é que tornaram suas aulas inesquecíveis, vivas na sua memória mesmo depois de 50 anos.  

Para além de mestre, Geraldo Brasileiro ressalta que a grandeza do professor Ângelo também esteve nas pesquisas e na arte. “Seu jeito alegre, perspicaz e muito criativo sempre mobilizou pessoas ao seu redor. Tive a grata oportunidade de estar com ele em muitos momentos fora do ambiente acadêmico, em reuniões familiares e em outras comemorações. A lembrança que terei dele será, sempre, a mais agradável possível”, afirma.


Perdemos todos com a morte do professor Ângelo Machado. A UFMG e a sua Faculdade de Medicina, que tiveram o privilégio de tê-lo como um dos seus professores mais destacados, tornaram-se maiores pelo trabalho meritório que ele realizou por muitas décadas. Sua vida e sua obra ficarão para sempre na memória de todos os que com ele conviveram. Agora, cabe a nós todos seguirmos os seus bons exemplos e continuarmos no caminho reservado às boas universidades, algo que o Prof. Ângelo Machado fez como poucos

Geraldo Brasileiro

Confira aqui o relato na íntegra.

Reconhecimento pelos imensuráveis feitos

Mesmo não tendo atuado como médico, Ângelo Machado deixou uma marca distinta na Medicina. Assim como inúmeras descobertas científicas relevantes, ter mudado o conceito sobre lesões do sistema nervoso autônomo na doença de Chagas, por exemplo, as homenagens à sua atuação também foram incontáveis.

Foi professor homenageado em diferentes turmas da Faculdade de Medicina da UFMG e esteve presente, inclusive, em muitos dos jubileus da Instituição, quando os médicos comemoram “bodas” de formatura. Entre essas cerimônias, Ângelo participou de jubileus da 48ª turma de Medicina (de 1964), das duas turmas de formandos de 1965, além das turmas que formaram em 1967, 1983 e 1989. Ele também foi paraninfo da segunda turma a graduar em 1987 e participou da comemoração do Jubileu de Prata em 2012.

Professor Ângelo Machado recebe homenagem da 49ª turma de Medicina durante Jubileu de Ouro. Foto: Carol Morena/ Faculdade de Medicina da UFMG

Nessas oportunidades ele aproveitava para enfatizar como o carinho nas relações, entre professor e aluno ou médico e paciente, eram importantes. E foi isso que alimentou o bom relacionamento e o fez amigo daqueles que eram, até então, seus aprendizes.

Outra homenagem recebida foi em 2005, quando Ângelo Machado se tornou professor Emérito da UFMG, um dos principais reconhecimentos da Universidade para docentes aposentados com destaque em sua trajetória acadêmica. Novamente evidenciado pela UFMG, ele recebeu a Medalha Reitor Mendes Pimentel, criada como uma distinção às personalidades e instituições com contribuições relevantes à Universidade. Isso em 2017, mesmo ano em que recebeu outro título de Emérito, mas, desta vez, como pesquisador e pelo CNPq.

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*Atualizada em 13 de abril de 2020