Patente da Faculdade detecta idade gestacional de recém-nascido com maior precisão atual

Publicação em revista internacional evidencia resultados positivos de testes do Projeto Skinage


20 de setembro de 2017


Publicação em revista internacional evidencia resultados positivos de testes do Projeto Skinage, dispositivo inédito que informa a idade gestacional do recém-nascido

Os resultados científicos do projeto Skinage, dispositivo inédito, patenteado pela Faculdade de Medicina da UFMG, que identifica a idade gestacional do bebê ao nascer, estão publicados na revista Public Library of Science (PLoS ONE). A publicação em forma de artigo, chamado Newborn skin reflection: Proof of concept for a new approach for predicting gestational age at birth. A cross-sectional study, mostra que esta pode ser uma tecnologia barata e efetiva para ser usada em diferentes cenários de parto pelo mundo.

Dispositivo identifica a idade gestacional usando luz LED. Foto: Arquivo Pessoal

De acordo com a coordenadora do projeto e professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade, Zilma Reis, o artigo mostra que o teste realizado nas maternidades do Hospital das Clínicas da UFMG e do Hospital Sofia Feldman, com 115 recém-nascidos de 24 a 41 semanas, entre 510g  e 3,5kg, teve resultados promissores. “Mostramos que através da reflexão da pele, analisada com um algoritmo que ajusta a reflexão ao peso e às condições do ambiente de incubadoras, é possível predizer a idade gestacional de um recém-nascido com erro de 11 dias, nas primeiras 48h de vida”, afirma.

Este resultado é considerado um indicador de sucesso, porque, segundo Zilma Reis, as técnicas atuais fazem esta previsão com erro de duas a três semanas e dependem de pediatra ou enfermeiro neonatólogo treinado. Já o novo dispositivo proposto poderá fazer a identificação de forma automática por profissionais de saúde, não necessariamente especialistas na área, em qualquer cenário de parto (em hospitais, casa ou ambulâncias).

“Tínhamos o foco principal de testar em bebês prematuros, que são os que vão mais se beneficiar com a tecnologia. Mas também incluímos os a termos – a partir de 37 semanas de gestação -, justamente para ver a diferença e progressão da capacidade de responder a luz”, acrescenta a professora. Dessa forma, as variações serviram para mostrar que o conceito incorporado no dispositivo era válido.

Zilma lembra que as maternidades participantes são locais de excelência, nas quais era possível ter certeza das idades gestacionais para comparação do resultado disponibilizado pelo dispositivo. “Nesse momento era preciso ter parâmetros confiáveis para ter certeza de que estávamos acertando. Para isso era preciso que as mães tivessem feito ultrassom desde o início da gravidez, além de todo o acompanhamento pré-natal”, informa. Assim, com o teste foi possível criar o modelo tecnológico para locais e cenários que não têm essas informações.

“A academia ainda tem o papel na etapa seguinte, a de testar esta tecnologia em outros ambientes, produzir e distribuir um número maior de dispositivos para fazer a pesquisa multicêntrica, tanto no Brasil quanto com colaboradores internacionais”, destaca Zilma. Ela diz que é preciso testar a nova tecnologia em outros bebês, de cores de pele diferentes e por mais profissionais para verificar se o resultado inicial irá se confirmar. “Neste momento de escassez de recursos para custear pesquisas no país, estamos em busca de mais financiamentos, nacionais e internacionais, e de novos hospitais colaboradores para  a etapa de validação. Também estamos avaliando as possibilidades de associar parceiros para produção deste novo equipamento no Brasil, uma vez que se trata de uma inovação desenvolvida no país”, informa.

Importância da precisão na idade gestacional

Segundo Zilma Reis, o primeiro passo é reconhecer que há um problema mundial sobre a identificação da idade gestacional dos bebês recém-nascidos. A falta desta informação pode comprometer a sobrevida, já que pode haver negligência na assistência. “Muitas vezes, de acordo com o tamanho, o bebê pode ser considerado aborto – em que não há tecnologia para que sobrevivam – e todo aquele cuidado que teria para dar suporte a sua sobrevivência será deixado de lado”, comenta Zilma.

O outro ponto é o limite entre o bebê a termo – aquele nascido a partir de 37 semanas de gestação e que geralmente não precisará de suporte respiratório – e o de 35 ou 36 semanas. O reconhecimento dos prematuros alerta para os cuidados com os que poderiam precisar de maior controle de temperatura, ser mais aquecido ou ser direcionado para uma Unidade Neonatal, por exemplo. Estes casos podem acontecer em um hospital sem maternidade, em uma maternidade mais simples ou em uma ambulância.

O Brasil será um dos países beneficiados, já que mais da metade das mulheres não têm acesso ao ultrassom precoce, como afirma Zilma. Mas ela ressalta que identificar a idade gestacional é mais do que um desafio nacional. “Há dois anos e meio atrás, quando fomos agraciados com o investimento da Fundação Bill & Melinda Gates, a chamada era para uma tecnologia mundial que pudesse ajudar a resolver um grande desafio: o reconhecimento do bebê prematuro”, relata.

“Em cenários como a África, apenas 5% das mulheres têm acesso ao ultrassom. Ou seja, a grande maioria não tem parâmetros para identificar a idade gestacional. Dessa forma, quem mais vai se beneficiar desta tecnologia são os países de baixa e média renda, nos quais não têm pediatra na sala de parto ou não é comum fazer o pré-natal”, conta Zilma.

Como funciona

Equipe responsável pelo dispositivo é composta por pessoas de diferentes áreas. Foto: Arquivo Pessoal

Zilma Reis informa que o projeto Skinage foi desenvolvido para oferecer uma tecnologia que atendesse aos cenários descritos anteriormente, sendo de baixo custo, eficiente, fácil de fazer e  para que todos os profissionais de saúde, não necessariamente um especialista na área, pudesse usá-lo em casso de dúvida ou na falta de informação da idade gestacional.

Para isso, decidiram usar três cores diferentes de luz de LED, considerada barata e acessível.  Cada cor tem um comprimento de onda de luz, que identifica determinado elemento da pele: colágeno; queratina; e glóbulos vermelhos. “A luz interage com a pele e a maneira como é refletida é o fenômeno que conseguimos analisar cientificamente. Um bebê prematuro que tem a pele muito fina, absorve muita luz e reflete pouco. A medida que ele vai amadurecendo, como um bebê a termo, a pele já está mais formada e expressa, refletindo mais luz”, explica.

Reconhecimento Internacional

O projeto foi financiado pela Bill & Melinda Gates Foundation e pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), além de ter sido selecionado para ser apresentado na 7ª edição do Building Global Innovators e  no 3rd WHO Global Forum on Medical Devices da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para Zilma, o trabalho é resultado da participação de muitas pessoas e de diferentes áreas que acreditavam no valor desta tecnologia. Na equipe responsável, há pesquisadores da Medicina, Biomedicina, Física, Engenharia e Computação, sendo professores e alunos de pós-graduação do Programa Saúde da Mulher da Faculdade de Medicina da UFMG, com o apoio do Centro de Informática em Saúde. “Uma coisa é importar uma tecnologia pronta e empregar aqui. Outra é desenvolver uma do zero e mostrar que o Brasil também é capaz de exportar tecnologias inovadoras”, comenta.

Saiba mais: skinage.medicina.ufmg.br