Adolescência, violência e segregação em mesa-redonda no Congresso
29 de agosto de 2017
*Jayne Ribeiro
A importância da psicanálise na constituição do adolescente como sujeito e a análise de atos de segregação contemporâneos, como xenofobia, terrorismo e preconceito racial foram temas abordados na mesa-redonda “Adolescência e juventude: A potência da clínica contra a segregação”, na manhã desta terça-feira, 29 de agosto, na Faculdade de Medicina da UFMG.
A presidente da mesa e professora do Departamento de Psicologia da Fafich da UFMG, Claudia Andréa Mayorga Borges, destacou a importância do diálogo entre disciplinas das ciências sociais e biológicas na discussão de questões que abordam a adolescência e a juventude.
Relações entre psicanálise e o modo como essa linha de pensamento compreende atos contemporâneos de segregação foram analisados pelo psiquiatra e psicanalista francês, Philippe Lacadée. Segundo ele, o psicanalista Jacques Lacan, referência na área, afirmava que todos os indivíduos presenciariam ou viveriam algum evento de segregação a partir do século XX.
Lacadée percorreu conceitos e questões discutidas pela psicanálise, como dívidas simbólicas e construção do sujeito, para assim, explicar porque a segregação acontece. “Meus estudos de psicanálise partem das percepções de Lacan. Para ele, todo ser humano tem algo obscuro, estrangeiro e ao mesmo tempo familiar dentro dele e todo sujeito também é constituído em sua relação com o outro. Por isso, alguns indivíduos acham que é seguro colocar muros para nos separar”, explicou.
O psicanalista francês ainda afirmou que o declínio da função paterna, na atualidade, fez surgir outros níveis de segregação, já que o jovem contemporâneo tem mostrado um considerável descrédito da fala. “Todo ser humano tem dificuldades psíquicas, fraquezas. O Estado Islâmico reconhece isso e utiliza de um discurso distorcido, um véu da fala para induzir os jovens ao terrorismo”, considerou. “A melhor forma de lidar com a segregação é utilizar o véu da fala, mas de forma fraterna”, concluiu Philippe Lacadée.
O psiquiatra e professor da PUC Minas, Renato Silveira, decorreu para a necessidade de os psicanalistas olharem para além das janelas de suas clínicas e analisar as cidades para, desse modo, compreender as relações entre jovens e atos de segregação. Renato, afirmou que não existem atos novos ou velhos de segregação ao citar o nazismo de Hitler e a atual marcha em defesa da supremacia branca que aconteceu em Charlottesville. “Existe um mundo novo e velho que existe simultaneamente”, afirmou o professor.
Janela da Escuta
O projeto de extensão da Faculdade de Medicina da UFMG foi apresentado pela coordenadora e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade (PED), Cristiane de Freitas Cunha. O Janela da Escuta promove a saúde para além do tratamento da doença, utilizando intervenções clínicas através de equipe multidisciplinar, composta por médicos, psicólogos, artistas, entre outros. “Assim, cuidamos não apenas promovemos saúde, como também, buscamos compreender o adolescente como sujeito singular”, relatou.
A programação continuou com a professora Rejane Ferreira dos Reis, abordando questões que envolvem o genocídio de jovens negros em Belo Horizonte.
Congresso Nacional de Saúde
A programação da 4ª edição do Congresso reúne mais de 10 mesas-redondas, workshops e oficinas em torno do tema “Promoção da Saúde: Interfaces, Impasses e Perspectivas”, além de três simpósios internacionais nas áreas de prática e ensino de Saúde.
O Congresso Nacional de Saúde vai até 30 de agosto de 2017, com atividades pela manhã e à tarde, divididas em três eixos temáticos e um eixo transversal. O evento conta ainda com atividades culturais, com exposições, apresentações, lançamentos de livros e intervenções durante toda a programação, que integra ainda as comemorações dos 90 anos da UFMG, celebrados em 2017.
A Secretaria executiva do 4º Congresso Nacional da Saúde atende na sala 5, no térreo da Unidade.
Confira a programação completa na página do Congresso Nacional de Saúde.
Mais informações: 3409 8053, ou ainda pelo e-mail 4congresso@medicina.ufmg.br
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*Redação: Jayne Ribeiro – estagiária de jornalismo
Edição: Mariana Pires