Terapias complementares do SUS: Meditação


01 de agosto de 2017


Esta matéria faz parte de uma série sobre as terapias complementares adotados como ações de promoção e prevenção em saúde no SUS

Neste ano de 2017, por meio da portaria nº 145/2017,  o Ministério da Saúde aumentou as opções de tratamentos complementares ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PICs) considera 19 terapias integrativas como “ações de promoção e prevenção em saúde”.

Foto: Carol Morena

Dentro desta lista, há a meditação, uma terapia que pode ser usada em qualquer pessoa, de qualquer idade, para treinar o foco, a atenção e a consciência. “No congresso que participei, no mês de junho, foi marcante a utilização da técnica de Mindfulness por psicoterapeutas em crianças com transtorno de ansiedade e de hiperatividade”, conta a professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina e ginecologista obstetra do Hospital das Clinicas (HC) da UFMG, Sara Paiva.

Ela explica que Mindfulness é uma técnica de meditação, que significa atenção plena e consiste em fazer uma coisa de cada vez, prestando atenção ao que está sendo feito, sem julgamento ou cobrança. “Esta é uma adaptação da meditação oriental praticada pelos monges budistas e foi trazida/adaptada para o Ocidente pelo professor da Escola Médica da Universidade de Massachusetts, Jon Kabat-Zinn”, afirma.

Segundo Sara, nas décadas de 70 a 80, Jon Kabat-Zinn criou um programa que utilizava Mindfulness para diminuir os níveis de estresse em pacientes que tinham sofrido infarto e feito cirurgia para desobstrução de artérias no coração. O objetivo da intervenção, junto às mudanças de hábitos de vida, era diminuir os riscos de novas oclusões das artérias no coração.  “Foi mostrado que os pacientes diminuíram os riscos de novos infartos durante os seis meses posteriores, quando comparados com pacientes que não fizeram a intervenção baseada em Mindfulness”, informa.

Sara se especializou em Mindfulness pelo Center for Mind-Body Medicine na University of Minnesota (EUA) e, ao voltar para o Brasil, trouxe a técnica para o Hospital das Clínicas (UFMG), onde fez seu pós-doutorado em Saúde da Mulher. Ela utilizou a técnica com as pacientes inférteis atendidas no Serviço de Reprodução Humana, a fim de melhorar a qualidade de vida e lidar melhor com o tratamento de fertilização in vitro (FIV).

Benefícios da Meditação

Sara Paiva ressalta que o método de Meditação Mindfulness não é novo e está baseado em evidências cientificas, sendo utilizado em vários hospitais, inclusive no sistema de saúde norte-americano e no Hospital Albert Einstein (São Paulo). “Já foi demonstrado que há alterações benéficas no corpo ao praticar a meditação”, realça.

“A técnica significa fazer, o quer que seja, com consciência, focando na respiração. Dessa forma, ao praticar Mindfulness, as pessoas têm uma diminuição dos hormônios do estresse”, conta. Ela explica que isso acontece porque a respiração e o foco na atenção faz com que haja produção de substâncias com ação contrária a da adrenalina, com consequente relaxamento muscular e melhora do bem-estar geral.

De acordo com a professora, a demanda da população pela técnica irá aumentar, ao continuarem demonstrando que “as práticas meditativas melhora a adesão dos pacientes a práticas saudáveis como atividade física, alimentação consciente e até mesmo melhor utilização de medicação terapêutica”. Desta forma, a prática pode auxiliar na prevenção de doenças e na promoção da saúde, assim como no tratamento e controle de doenças crônicas como hipertensão e diabetes.

Ela utiliza uma analogia feita pelo Professor John Kabat-Zinn ao dizer que, da mesma forma que hoje orientam pacientes a praticarem atividade física, por saberem dos seus benefícios para a saúde, em breve orientarão a prática da meditação como forma de promoção da saúde. “Talvez, daqui a 20 anos, iremos prescrever no formulário a prática de meditação para nossos pacientes”, aponta Sara.

“O SUS vai entender que é muito melhor orientar essas práticas, do que pagar por tratamentos como antidepressivo e remédios para diabetes e hipertensão, por exemplo”, defende. “É melhor prevenir do que tratar. A meditação é uma prática que melhora a qualidade de vida e consequentemente, previne as comorbidades”, completa.

A prática local de Mindfulness

No Brasil, segundo Sara, já existem vários centros de saúde que utilizam Mindfulness. “Eu introduzi essa técnica no tratamento de pacientes no HC em 2008, quando comecei o pós-doutorado. Desde então, a técnica é utilizada em diversos tratamentos do Hospital”, discorre. Mulheres portadoras de câncer do colo uterino, síndrome dos ovários policísticos, endometriose e infertilidade, dor pélvica crônica, obesidade, transtorno de estresse pós-traumático devido a violência sexual, são alguns exemplos de pacientes que recebem a técnica como parte do tratamento.

Essa oferta é feita no Ambulatório de Mindfulness e Medicina Antiestresse. O tratamento, que acontece em grupos, tem duração de oito semanas, com encontros semanais por duas horas. Em cada sessão as pacientes aprendem e praticam uma nova técnica antiestresse baseada na Meditação Mindfulness. Desta forma, de acordo com Sara, elas aprendem a viver melhor o momento presente, para evitar problemas no futuro.

A professora também levou a técnica de Mindfulness para o ensino de Medicina no Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos alunos e professores da graduação. “Lá foram realizados vários grupos com alunos e também com professores e o resultado foi impressionante, mostrando diminuição dos níveis de estresse e ansiedade após as oito semanas do acompanhamento em grupo”, discorre.

É esta experiência que ela pretende trazer para a Faculdade de Medicina da UFMG, ainda este ano. “Tenho um grande sonho de trazer este projeto aos alunos de Medicina da UFMG e residentes do HC, para auxiliá-los na gestão do estresse e melhorar a qualidade de vida. Temos notado que há altos índices de transtorno de ansiedade e depressão entre eles”, declara. “Mindfulness é muito bom para auxiliar as pessoas a lidarem melhor com os problemas da vida, mesmo os do dia a dia”, ressalta.

Para entender melhor sobre a prática, a professora indica a leitura dos seus artigos, em inglês, sobre o tema:

4º Congresso Nacional de Saúde

A inclusão da espiritualidade e da religiosidade no ensino, pesquisa e prática clínica e as práticas integrativas e complementares serão tema do eixo transversal do 4º Congresso Nacional da Saúde. O evento será realizado do dia 28 a 30 de agosto de 2017, na Faculdade de Medicina da UFMG, com o tema “Promoção da Saúde: Interfaces, Impasses e Perspectivas”.

Mais informações e inscrições no site www.www.medicina.ufmg.br/congressosaude/

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