Pesquisa vai avaliar impacto da pandemia na saúde mental da população brasileira

A Faculdade de Medicina é uma das instituições responsáveis pelo estudo. Participe respondendo ao questionário online


26 de maio de 2020 - , , , , , ,


“A escala desta pandemia é única, assim como seus efeitos imediatos e de longo prazos são inéditos. O cenário de incertezas é enorme, há risco de vida, sem perspectiva de término e riscos econômicos. Essas características tornam essa situação um potencial estressor em escala mundial”

Débora Marques de Miranda, professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG e membro da equipe do estudo

Com a necessidade de compreender os eventos da pandemia causada pelo novo coronavírus, uma equipe de médicos, psicólogos e cientistas se reuniram para avaliar a “Influência da Covid-19 na Saúde Mental da População Brasileira e de seus Profissionais de Saúde”. Qualquer adulto brasileiro pode participar respondendo ao questionário online sobre sua história de vida, saúde, hábitos, sentimentos e comportamentos de antes e durante a pandemia.  

“Estamos no momento agudo da vivência do estresse e é importante observamos se houve impacto. Tivemos comportamento de manada, desesperamos com o fechamento das atividades, estamos apreensivos com a perspectiva de retorno, recebemos informações ambíguas, a ciência ainda é muito pobre sobre toda essa condição”, comenta Débora Marques.

De acordo com a professora, é esperado que as pessoas apresentem quadros de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático. No entanto, além de verificar essas ocorrências, é necessário saber como pessoas com diagnósticos prévios estão diante da pandemia como fator estressor. Sendo assim, a pesquisa analisará a saúde mental de forma ampla e considerando os quadros específicos de doenças psiquiátricas prévias.

Mais de 3 mil pessoas já responderam, mas é necessário ter um número ainda maior. Segundo a professora, a população deve ser representativa quanto às diferentes regiões, gêneros e as diversas situações da pandemia. “Nossas cidades e estados são muito heterogêneos quanto ao número de casos, letalidade ou mesmo quanto à forma de enfrentamento. É importante saber como está sendo um impacto nesses diversos cenários”, lembra. “Estamos cuidadosos com a construção dos inquéritos e com o caráter nacional com boa representatividade”, ressalta

Ela informa, ainda, que os participantes recebem um relatório como retorno sobre seu quadro, desde que manifeste o interesse. Além disso, o estudo incluirá na análise as respostas dos mesmos participantes após seis, 12 e 18 meses, pois é possível que os impactos da pandemia perdure, minimize ou só apareça tempos depois de se encerrar, como explica a pesquisadora.

Entender nossa realidade e subsidiar ações futuras

O estudo é uma realização da parceria entre a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Associação Brasileira de Impulsividade e Patologia Dual (ABIPD) e a Faculdade de Medicina da UFMG. A coordenação é do professor Leandro Malloy, do Departamento de Saúde Mental da Faculdade, e Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP.

Os resultados serão públicos como é recomendado sobre dados de cunho científico. Assim, segundo a professora Débora, servirão “de suporte às decisões de instituições públicas e serão comparáveis aos dados de outros países”. “A comparação pode ser, inclusive, importante para conhecermos particularidades de países como o Brasil, considerados de renda média ou baixa”, destaca. 

A coleta das respostas será interrompida quando houver redução do número de casos e óbitos por covid-19. Por isso ainda não há uma data de conclusão do estudo, o qual será embasado em informação científica e decisões públicas, a fim de preparar para situações semelhantes. Ao término, será feita uma síntese de evidências e publicada em revistas nacionais e internacionais indexadas. 

Mais informações em: www.bit.ly/covid19esaudementalnoBrasil

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