Vertigem e tontura após cirurgia de implante coclear têm solução

Casos serão discutidos no 3º Simpósio Franco-Brasileiro sobre Audição.


27 de agosto de 2021 - , , ,


Para muitas pessoas com perda auditiva neurossensorial profunda e bilateral, ou seja, nos dois ouvidos, o implante coclear pode melhorar a qualidade de vida oferecendo maior conforto e favorecendo a audição. Em alguns casos, a cirurgia pode afetar o equilíbrio do paciente, causando vertigem e tontura. A boa notícia é que há tratamento para esse quadro. 

Na maioria das vezes, os problemas ocorrem até os primeiros 15 dias do pós-operatório. A professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFMG, Patrícia Mancini, explica que o tratamento é realizado por profissional da fonoaudiologia. “Para aqueles pacientes que mantêm tontura e vertigem por mais tempo é recomendado uma reabilitação vestibular, feita pelo fonoaudiólogo. O tratamento consiste em exercícios que estimulam o equilíbrio, utilizando posições que propiciam a tontura para habituar o corpo ao sintoma, de forma que aprenda a lidar com a disfunção no aparelho vestibular”, explana. 

Outros sistemas que participam na manutenção do equilíbrio são a visão e a propriocepção (capacidade do corpo de perceber em que posição se encontra). Durante os exercícios, esses sistemas vão ser estimulados para o corpo coordenar melhor os reflexos do equilíbrio, na chamada estimulação repetitiva.

Segundo a professora, o quadro não é comum. De 10% a 24% dos pacientes com implante coclear apresentam tontura temporária nas primeiras semanas. Em apenas 2% dos implantes os problemas de equilíbrio são mais duradouros. “Normalmente o sintoma é transitório e o líquido do labirinto se reconstitui”, esclarece Mancini. 

A origem do problema ocorre na própria cirurgia. O equipamento implantado cirurgicamente transforma as ondas sonoras em impulsos elétricos, enviados para eletrodos instalados na cóclea (no ouvido interno), estimulando diretamente os nervos. Como a cóclea fica alojada no labirinto, mesmo osso onde funciona o aparelho vestibular (principal responsável pelo equilíbrio), a cirurgia pode resultar em perda de líquido, como a endolinfa, e afetar a função vestibular. “A cóclea tem íntima relação com o sistema vestibular, dentro do osso labirinto, que é aberto para inserção dos eletrodos”, afirma.

Pelo SUS, a cirurgia é indicada para casos de surdez profunda e bilateral. 

Uma das referências em Minas Gerais é o Serviço de Atenção à Saúde Auditiva, operacionalizado pelo Hospital das Clínicas da UFMG. Pacientes encaminhados pelo sistema público são avaliados por equipe de otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos, assistentes sociais e psicólogos. Os casos que demandam implantes são encaminhados para cirurgia e recebem acompanhamento e terapia para reabilitação auditiva.   

A estimulação elétrica promovida pelo implante coclear geralmente melhora outro sintoma, o zumbido. Este sintoma está relacionado à perda auditiva e é presente em grande parte dos pacientes antes da cirurgia. Existem casos raros, de 1% a 2%, em que pacientes adquirem zumbido após o implante.

Simpósio Franco-Brasileiro sobre Audição

O equilíbrio é um dos principais temas do 3º Simpósio Franco-Brasileiro sobre Audição, que ocorre virtualmente nos dias 10 e 11 de setembro. O evento também aborda a exposição à sons intensos e ao ruído, uma questão de grande preocupação para a Organização Mundial da Saúde, segundo a qual mais de um bilhão de pessoas serão afetadas até 2050. 

“Podemos esperar debates ricos e casos clínicos interessantes. A mesa redonda sobre equilíbrio vai trazer os números do Programa de Saúde Auditiva em relação ao implante coclear e também os casos, mesmo que mais raros, de pacientes que ficam com vertigem transitória. Os casos apresentados e as mesas vão favorecer novos aprendizados”, finaliza a professora.

Mais informações e inscrições.

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