Psicose canábica é debatida em webconferência da Saúde Mental

Evento ao vivo foi promovido pelo Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG.


20 de janeiro de 2021 - , , , , , , ,


Captura de tela do evento. Assista íntegra pelo link.

O Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG realizou nesta quarta-feira, 20 de janeiro, a palestra “Os efeitos adversos de canabinoides na saúde mental”. O evento teve participação do professor da USP, Valentim Gentil Filho. A moderação foi feita pelo professor e chefe do Departamento de Saúde Mental da UFMG, Humberto Corrêa Filho.

Na palestra, Valentim explicou a trajetória dos estudos no setor desde os anos 1970 e alertou para riscos e efeitos deletérios do uso de preparos da maconha com altas concentrações de tetra-hidrocanabinol (THC) para saúde mental, em especial na relação com psicoses e esquizofrenia.

O evento marcou a décima primeira edição da série de lives Webconferências do Saber, promovidas pela Faculdade de Medicina com expoentes da saúde, onde os 12 departamentos da Instituição discutirão os temas mais atuais de suas áreas.

Assista ao evento:

Psicose canábica

Valentim contou como começou sua relação com a área. “Um dos primeiros pacientes que atendi em Londres tinha diagnóstico de psicose canábica. Não conhecia esse termo. O quadro era muito semelhante com esquizofrenia. Fui à família, pesquisei a fundo”, lembra.

O paciente, de nome John, falava sozinho, tinha risos imotivados e não respondia aos medicamentos para controle dos episódios de psicose. O caso chamou a atenção do professor pelo paciente não ter história familiar de esquizofrenia.

Captura de tela do evento. Assista íntegra pelo link.

Foi nessa época que conheceu o trabalho de Jacques-Joseph Moreau, apelidado de “Moreau de Tours”, psiquiatra francês e primeiro médico a fazer um trabalho sistemático sobre efeitos das drogas no sistema nervoso central, observando o consumo. Na palestra, o professor Valentim mostrou que, desde então, muito se avançou no conhecimento científico sobre efeitos de compostos de maconha.

Entre as evidências, foi citado estudo feito com 45 mil recrutas do exército da Suécia. Eles foram acompanhados inicialmente por 15 anos, com novos dados coletados depois de 35 anos. As conclusões foram associação do uso de maconha com esquizofrenia e internações psiquiátricas. “Não só psicose aguda, mas crônica”, alerta.

Apesar de ter o método questionado, os dados serviram para novos estudos se aprofundarem na questão, apontando para relação entre uso de maconha com alta concentração de THC com quadros psiquiátricos. “Há alguma relação, não necessariamente causa e efeito”, observa.

Os estudos apresentados sugerem que a cannabis tem papel causal, não como causa única, mas componente que antecipa ou agrava quadros de psicose. Outros componentes são a genética, traumas, problemas neonatais e intrauterinos, como quadros virais durante a gravidez.

THC vs CBD

Outra substância presente em preparações da maconha (que chegam a 400), é o canabidiol (CBD). Diferente do THC, alguns estudos apontam potencial uso medicinal, como na síndrome pediátrica de Lennox-Gastaut. 

Outros estudos com CBD de forma medicinal estão em andamento. Segundo o especialista, ainda não há certeza sobre os benefícios dessa substância.

A principal ameaça à saúde parece estar ligada ao THC. Um dos estudos apresentados no evento foi publicado em 2019 e dá conta de maior incidência de esquizofrenia nas cidades dos Estados Unidos que registram maior uso de preparações com alto índice de THC. “Se houver relação causal, faz com que 12% dos primeiros casos de psicose crônica e grave pudessem ser evitados”, registra o professor.

“De 1973 para cá, vejo poucas pessoas percebendo a gravidade da expansão do uso de preparações de alto risco”

O palestrante demonstrou preocupação com as mudanças nos hábitos de consumo da população. “De 1995 para frente, a relação entre THC e CBD nas preparações apreendidas pela polícia aumentou. Hoje temos exposição da população para altas concentrações de THC”, se preocupa. Além de quadros psiquiátricos, foram apresentados dados que apontam alto risco para agravamento de doenças pulmonares, oftalmológicas e outras.

Ele concluiu pedindo mais estudos na área. “Antes de liberar o uso é melhor termos mais informações sobre o que é mexer com o sistema endocanabinoide”, afirma.

Palestrante

Valentim é professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP desde 1987. Foi também chefe do Departamento, além de professor no Instituto de Ciências Biológicas da Instituição. É Ph.D. pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de Londres.

É também chefe de Departamento do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. Suas áreas de interesse profissional atual incluem os mecanismos de regulação do humor normal, a importância da angústia como resposta emocional, o tratamento dos transtornos ansiosos e do humor e o aprimoramento dos serviços e políticas de saúde mental pública.


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